segunda-feira, 24 de maio de 2010
O fenômeno da autoajuda
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Palavras para dizer
Cena 1, em casa
Um amigo me escreveu: "Achei teu blog bem legal. Até me senti mais inteligente lendo coisas tão inteligentes." Fiquei feliz com o comentário, mas, ao mesmo tempo, li nas entrelinhas: "Vocês são meio pernósticas." Bom, sei que essa provavelmente não foi a intenção do meu amigo, mas não consegui evitar o pensamento.
Cena 2, na redação
Recebemos um inesperado e-mail de despedida. Li a mensagem e nenhuma palavra me soou deslocada. Mas não demorou muito para piscar meu MSN com uma colega de trabalho mostrando-se indignada com o fato de no texto constar a palavra "doravante". Outra palavra que a irritou foi "aguerrida".
Cena 3, ligando os pontos
O e-mail do meu amigo e o MSN da minha colega de trabalho me fizeram perceber que envelheci. Ok, doravante realmente é quase um arcaísmo (olha outra palavrinha velha), mas qual o problema com a sonora, forte, firme aguerrida? Gosto dela e isso provavelmente me faz soar antiquada no ambiente super-hipermoderno de uma redação de internet. Trocando em miúdos: já tiraram com a minha cara por falar "balbúrdia" ou "inexiste" ou sei lá o quê. Só não entendo por que teria de usar "não existe" se há uma só palavra para exprimir essa ideia. Ou por que dizer que um lugar está "zuado", se está uma balbúrdia. Ou seja, só há uma palavra para cada coisa. Ou, como diria Mario Quintana: "Confesso que até hoje só conheci dois sinônimos perfeitos: nunca e sempre."
Cena 4, divagações
Por isso que às vezes o jornalismo me cansa com essa ideia de que só se podem usar "dizer" ou "afirmar" para declarações. E comentar, prometer, indagar, indicar, interpelar, sugerir, anunciar? Quando leio alguns textos de gente mais jovem e não menos lida percebo que às vezes falta a palavra exata para o que querem dizer. E não que nunca a tenham visto ou lido, mas porque raramente a usam. A palavra se perde.
Cena 5, conclusão
Possivelmente sou meio formal ou pernóstica (apesar de odiar essa palavra e seu significado). Mas não me importo. É bom ter uma ampla gama de palavras às quais recorrer para exprimir uma ideia com mais precisão. Prefiro ser antiquada a ser banal. (Leda Balbino)
Um amigo me escreveu: "Achei teu blog bem legal. Até me senti mais inteligente lendo coisas tão inteligentes." Fiquei feliz com o comentário, mas, ao mesmo tempo, li nas entrelinhas: "Vocês são meio pernósticas." Bom, sei que essa provavelmente não foi a intenção do meu amigo, mas não consegui evitar o pensamento.
Cena 2, na redação
Recebemos um inesperado e-mail de despedida. Li a mensagem e nenhuma palavra me soou deslocada. Mas não demorou muito para piscar meu MSN com uma colega de trabalho mostrando-se indignada com o fato de no texto constar a palavra "doravante". Outra palavra que a irritou foi "aguerrida".
Cena 3, ligando os pontos
O e-mail do meu amigo e o MSN da minha colega de trabalho me fizeram perceber que envelheci. Ok, doravante realmente é quase um arcaísmo (olha outra palavrinha velha), mas qual o problema com a sonora, forte, firme aguerrida? Gosto dela e isso provavelmente me faz soar antiquada no ambiente super-hipermoderno de uma redação de internet. Trocando em miúdos: já tiraram com a minha cara por falar "balbúrdia" ou "inexiste" ou sei lá o quê. Só não entendo por que teria de usar "não existe" se há uma só palavra para exprimir essa ideia. Ou por que dizer que um lugar está "zuado", se está uma balbúrdia. Ou seja, só há uma palavra para cada coisa. Ou, como diria Mario Quintana: "Confesso que até hoje só conheci dois sinônimos perfeitos: nunca e sempre."
Cena 4, divagações
Por isso que às vezes o jornalismo me cansa com essa ideia de que só se podem usar "dizer" ou "afirmar" para declarações. E comentar, prometer, indagar, indicar, interpelar, sugerir, anunciar? Quando leio alguns textos de gente mais jovem e não menos lida percebo que às vezes falta a palavra exata para o que querem dizer. E não que nunca a tenham visto ou lido, mas porque raramente a usam. A palavra se perde.
Cena 5, conclusão
Possivelmente sou meio formal ou pernóstica (apesar de odiar essa palavra e seu significado). Mas não me importo. É bom ter uma ampla gama de palavras às quais recorrer para exprimir uma ideia com mais precisão. Prefiro ser antiquada a ser banal. (Leda Balbino)
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Um futuro sem leitores?
Qual não foi minha surpresa quando fui dar uma espiada no blog na noite de sexta e me deparei com o post da Dani, tratando do mesmo artigo que pensava em abordar como próximo tema. Só liguei o computador à noite porque havia lido o texto no ônibus, voltando do trabalho. E ele me tocou exatamente no mesmo trecho que chamou a atenção da Dani: "A questão mais funda e, no limite, sem resposta, é saber se no futuro haverá leitores de Kafka." Coincidências assim explicam por que somos amigas. O artigo de Hatoum também me fez lembrar de uma entrevista que Umberto Eco concedeu ao Sabático em 13 de março (http://migre.me/AUVL), em que afirma, categórico: "Eletrônicos duram dez anos, livros duram cinco séculos." O tema da entrevista era o lançamento da obra "Não contem com o fim do livro", em que discute a perenidade da obra em papel. Para justificar sua certeza sobre a imortalidade do livro, Eco diz: "Os eletrônicos chegaram, mas percebemos que sua vida útil não passa de dez anos. Assim, quem poderia afirmar, anos atrás, que não teríamos hoje computadores capazes de ler os antigos disquetes? E que, ao contrário, temos livros que sobrevivem há mais de cinco séculos?" Mais adiante, quando questionado sobre qual a diferença básica entre o conteúdo disponível na internet e o de uma enorme biblioteca, ele diz: "Uma biblioteca é como a memória humana, cuja função não é apenas a de conservar, mas também a de filtrar. Já a internet é como o personagem Funes, de Jorge Luis Borges, cuja capacidade de memória era infinita, incapaz de selecionar o que interessa. Esse é o problema básico da internet: depende da capacidade de quem a consulta, da vivência pessoal." A resposta expõe uma inquietação que não deixa de ser semelhante à de Hatoum. No futuro, independentemente da sobrevivência do livro, haverá leitores de Kafka? Haverá pessoas com a capacidade de identificá-lo e com a vivência para nele reconhecer um grande escritor? Em resumo: no futuro, haverá leitores? (Leda Balbino)
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