A primeira vez que ouvi falar em jornalismo literário foi há quase dez anos, na redação da Exame, por um dos editores que nos enviou um texto de Gay Talese. Fiquei encantada. Ali havia uma mistura mágica para mim: jornalismo de verdade contado em forma de romance. Na mesma época, a Cia. das Letras lançou sua coleção de jornalismo literário e pude aprender um pouco mais sobre isso, devorando alguns títulos. Primeiro Hiroshima, de John Hersey; depois O Segredo de Joe Gould, de Joseph Mitchell e, por fim, A Sangue Frio, de Truman Capote. Adorei todas as histórias e decidi fazer um curso simples e rápido sobre jornalismo literário. Eu, sendo jornalista, poderia também escrever histórias desse nível? A resposta, depois de três ou quatro meses de curso, foi clara: não, não posso. Ficou óbvio para mim que não é qualquer jornalismo (e também qualquer jornalista) que pode se aventurar pelo também chamado romance de não ficção. No meu caso, jornalista sempre voltada à área de negócios, isso soa quase ridículo. Na minha opinião, não dá para romancear reportagens sobre recursos humanos nas organizações ou ascensão profissional no mundo corporativo. Para fazer jornalismo literário precisa ter histórias de vida nas mãos e nem toda reportagem traz isso ou traz isso de forma abundante. O curso foi importante para eu entender que sou jornalista e leitora. E vejo isso como duas coisas diferentes. Faço jornalismo (com lead objetivo, com começo, meio e fim, com dados e números, com ganchos, com teses, com todo jargão da área) e leio romances – inclusive os de não ficção. E voltei à coleção da Cia das Letras, pelo Livro das Vidas, que traz os mais interessantes obituários do New York Times. E quanta vida há nessa literatura de jornal. Hoje, estou lendo Operação Massacre, do argentino Rodolfo Walsh e a história real de um fuzilamento no período sombrio da pré-ditadura argentina contada de forma tão literária já me prendeu – passei da página 80 rapidamente. Até agora, todos os livros que li da coleção jornalismo literário, da Cia. das Letras (e outros que não dessa editora, como o 102 Minutos, escrito por dois repórteres do NY Times, que narra o que aconteceu nesse intervalo de tempo em que as torres gêmeas caíram no 11 de Setembro) me encantaram. Se estou na dúvida de que título buscar para minha próxima leitura, não hesito em pegar um que tem como gênero o romance de não ficção. É quase certo que terei uma boa companhia literária com histórias cheias de vida nos próximos dias. (Daniela Diniz)
terça-feira, 19 de abril de 2011
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