sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A vida não é um livro aberto


Antes de começar propriamente este texto, é bom dizer logo: não sou contra redes sociais. Estou cadastrada em quase todas, aliás. Do démodé orkut ao moderninho, agora popular facebook, passando por plaxo, pulse e linkedin. Não alimento todos eles, é verdade. Tenho mais, muito mais o que fazer, mas curto a dinâmica da troca de informações, do resgate de amizades antigas, do aumento do network – que ajuda profissionalmente. Mas as redes não estão limitadas a isso. Ao contrário. Não há limite na web – e é exatamente isso que vem me incomodando ultimamente. No meu tempo de criança, lá pelos meados da década de 80, diário tinha cadeado. E era bom e saudável ter segredos. Hoje, a vida – em suas máximas privacidades – anda escancarada nas redes sociais. Leio diariamente as vontades das pessoas, se estão com sono, com sede, com fome. Sentimentos privados se tornam públicos: “estou com raiva de certa pessoa”, por exemplo. Ou “suspirando por alguém”. Confesso que eu mesma estava quase embarcando na onda de compartilhar emoções desnecessárias. Sim, porque as minhas emoções, os meus sentimentos e minhas vontades dizem respeito a quem mesmo? Definitivamente, não diz respeito ao colega do amigo de trabalho que também caiu na minha rede social. Quando me vi escrevendo algo do gênero: “vontade de tomar mais um café”, a luz amarela acendeu. Não, não saí das redes. Ainda escrevo como estou, onde estou e informações ou textos que, ao meu julgamento, possam ser úteis ou agradáveis a alguém – até mesmo desabafos contra péssimos atendimentos, por exemplo (isso pode dar resultado nas redes!). Mas, ando filtrando minhas palavras e selecionando meus contatos. A vida, ao menos para mim, não é ainda uma tela aberta. (Daniela Diniz)

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Resgate

Há algum tempo deixei esse blog para trás pelo maior motivo que pode existir na vida de um ser humano: ter um filho. E ter um filho nos dá desculpa para muitas coisas, inclusive para se ausentar do próprio prazer. No meu caso, da literatura. O ano passado foi o ano em que menos li. Talvez quatro ou cinco livros apenas. Mas foi o ano em que mais aprendi. E toda essa experiência adquirida me livrou de alguns preconceitos. Um deles foi o de usar clichês. Pois a maternidade permite todos eles. Ser mãe é estado único -- de graça, de glória, de benção, mas também exige um abandono de parte de si. Deixamos de fazer uma porção de coisas grandiosas para nos prender em coisas pequenas. O que não significa que nos apequenamos. Apenas mudamos o foco e o peso de algumas ações. Mas tudo, aos poucos, volta. Vamos resgatando parte de quem fomos e unindo às novas partes que agora nos pertence. Eu acreditava que esse tipo de texto não mais sairia de mim. Não há tempo para escrita vulgar. Prefiro ler algo de qualidade a escrever bobagens cotidianas e sentimentais. Mas esse exercício ainda me é importante. Pelos textos do passado, consigo entender melhor quem sou hoje e a razão de algumas atitudes. Uma espécie de terapia literária, como a Leda já escreveu aqui. E talvez por esse motivo, eu precise disso. Para me convencer no futuro de que os dias se parecem, mas não se repetem. De que os anos acumulam rugas e quilos, mas também experiência e sabedoria. De que personalidade é a base do ser humano, mas flexibilidade é a sua sobrevivência. E é dessa forma que volto, que recomeço, que me resgato. Hoje meu filho completa seis meses de vida, eu completo dez anos como jornalista da Editora Abril e páginas em branco me esperam para serem preenchidas – na profissão e na vida. (Daniela Diniz)