terça-feira, 31 de janeiro de 2012
O inesperado de Cortázar
domingo, 24 de julho de 2011
O sofrimento de ter sofrido muito

segunda-feira, 4 de julho de 2011
Gratidão
Minha avó sempre teve uma vida dura, soube por minha mãe. Lavou roupas no rio. Passou outras com ferro à brasa. Matou porcos e galinhas para alimentar os filhos. Controlou o dinheiro com mãos de ferro. Como só teve educação para ler e escrever, não assistiu a filmes intrincados nem leu livros literários.
Minha avó nunca visitou o país de seus pais. Não aprendeu a falar sua língua. Não estudou um ofício para eventualmente ser bem paga por ele. Sua vida foi trabalhar para criar os seis filhos, dar-lhes melhores condições de vida, para que pudessem crescer e constituir suas famílias.
Ela nunca teve muitas papas na língua ou consideração pelas sensibilidades alheias. Se achasse que alguém engordou, falaria na hora, sem rodeios. E não era questão de idade, de que os mais velhos perdem o freio: ela era o tipo de pessoa que não se importa com que a pergunta "Como vai?" seja retórica. Ela sempre falaria a sua verdade. E por isso muitas vezes a temi.
A Dona Olga nunca representou para mim o estereótipo da boa velhinha, da avó terna, que teceria em lã um casaco quentinho para a neta. Para mim, ela sempre foi essa força da natureza independente, que nunca aceitou que lhe dessem ordens. Que lhe forçassem a se render. Que lhe fizessem aceitar que o tempo passa - e a todos varre.
Ela sempre lutou para permanecer. E por isso que vê-la fragilizada em uma cama de hospital, com aparelhos que respiravam por seus pulmões, recebendo injeções sem ter a consciência delas, foi chocante. Como se lhe fosse negada sua dignidade; como se tivessem desmentido sua fortaleza.
E enquanto a olhei, enquanto a vi conectada à vida pela fragilidade de máquinas, dei-me conta explicitamente de que ela foi minha origem. Os sacrifícios e lutas de sua geração foram determinantes para os avanços das seguintes. Sua história traçou a de meus irmãos, a minha. Ela é a minha herança.
A luta aguerrida de Dona Olga pela vida a trouxe lúcida aos 97 anos. Mas sempre chega o momento de nos render à morte. De dizer adeus. Agora, minha avó continua em mim. E a levarei comigo com gratidão. (Leda Balbino)
terça-feira, 24 de maio de 2011
Meu parque de diversão

segunda-feira, 23 de maio de 2011
Post mal humorado
1. não dá para uma banca se autoproclamar a mais bonita da cidade. Um pouco de modéstia (ou, melhor, realismo), por favor;
2. o cantor principal se esforça, mas desafina em vários momentos;
3. a menina da flor na cabeça (que realmente tem uma voz bonita) aparece no vídeo com aquela cara "veja como estou feliz de cantar 'Oração'". Um tanto quanto irritante;
4. por último (e mais importante), a letra. Leiam:
Meu amor, essa é a última oração,
pra salvar seu coração
Coração não é tão simples quanto pensa,
nele cabe o que não cabe na dispensa (sic).
Cabe o meu amor,
Cabem três vidas inteiras,
Cabe uma penteadeira,
Cabem nós dois,
Cabe até o meu amor.
Isso é bonito, poético? Sete cabe/cabem. Rima pobre de oração/coração. Rimas paupérrimas de pensa/dispensa (em vez de despensa) e inteiras/penteadeira (hã?!?!). E tudo em uma repetição interminável de seis minutos?!?! Essa fórmula de bolo simplíssima para me dizer que o coração não é tão simples quanto pensa? Por isso que cada vez mais não curto o botão curtir do Facebook. Ele não dá espaço ao dissenso. Ainda bem que tenho o blog. #prontofalei (Leda Balbino)
terça-feira, 19 de abril de 2011
Sobre Jornalismo Literário
A primeira vez que ouvi falar em jornalismo literário foi há quase dez anos, na redação da Exame, por um dos editores que nos enviou um texto de Gay Talese. Fiquei encantada. Ali havia uma mistura mágica para mim: jornalismo de verdade contado em forma de romance. Na mesma época, a Cia. das Letras lançou sua coleção de jornalismo literário e pude aprender um pouco mais sobre isso, devorando alguns títulos. Primeiro Hiroshima, de John Hersey; depois O Segredo de Joe Gould, de Joseph Mitchell e, por fim, A Sangue Frio, de Truman Capote. Adorei todas as histórias e decidi fazer um curso simples e rápido sobre jornalismo literário. Eu, sendo jornalista, poderia também escrever histórias desse nível? A resposta, depois de três ou quatro meses de curso, foi clara: não, não posso. Ficou óbvio para mim que não é qualquer jornalismo (e também qualquer jornalista) que pode se aventurar pelo também chamado romance de não ficção. No meu caso, jornalista sempre voltada à área de negócios, isso soa quase ridículo. Na minha opinião, não dá para romancear reportagens sobre recursos humanos nas organizações ou ascensão profissional no mundo corporativo. Para fazer jornalismo literário precisa ter histórias de vida nas mãos e nem toda reportagem traz isso ou traz isso de forma abundante. O curso foi importante para eu entender que sou jornalista e leitora. E vejo isso como duas coisas diferentes. Faço jornalismo (com lead objetivo, com começo, meio e fim, com dados e números, com ganchos, com teses, com todo jargão da área) e leio romances – inclusive os de não ficção. E voltei à coleção da Cia das Letras, pelo Livro das Vidas, que traz os mais interessantes obituários do New York Times. E quanta vida há nessa literatura de jornal. Hoje, estou lendo Operação Massacre, do argentino Rodolfo Walsh e a história real de um fuzilamento no período sombrio da pré-ditadura argentina contada de forma tão literária já me prendeu – passei da página 80 rapidamente. Até agora, todos os livros que li da coleção jornalismo literário, da Cia. das Letras (e outros que não dessa editora, como o 102 Minutos, escrito por dois repórteres do NY Times, que narra o que aconteceu nesse intervalo de tempo em que as torres gêmeas caíram no 11 de Setembro) me encantaram. Se estou na dúvida de que título buscar para minha próxima leitura, não hesito em pegar um que tem como gênero o romance de não ficção. É quase certo que terei uma boa companhia literária com histórias cheias de vida nos próximos dias. (Daniela Diniz)
terça-feira, 29 de março de 2011
A Ficção da Ficção
