segunda-feira, 12 de abril de 2010

A escrita como terapia

Dizem que escrever é terapêutico. Li que até há cursos em que a escrita é o recurso para o autoconhecimento. Acho que esse é um dos motivos para eu escrever. Muitas vezes o faço para desabafar, para tentar verbalizar o que é intangível, inalcançável e, paradoxalmente, indescritível. Muitas vezes o faço para tentar exprimir em palavras o que nem sei bem de mim. Seguem abaixo dois textos que escrevi no ano passado com uma diferença de dois meses entre si. Eles são o retrato do que vivi e vivo ainda hoje. Eles são meu desabafo. E ao expô-los aqui neste blog me lembro de versos de Carlos Drummond de Andrade: “Não, meu coração não é maior que o mundo/ É muito menor./ Nele não cabem nem as minhas dores./ Por isso gosto tanto de me contar./ Por isso me dispo,/ por isso me grito,/ por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:/ preciso de todos.”

A mão nua

Já se passou uma semana, mas não há como se acostumar com a nudez da mão. O roçar dos dedos sente a ausência daquilo que não está, daquilo que virou hábito com o passar do tempo. E agora só parece haver a mão rendida ao vazio, a falta de um vínculo circular, sem começo nem fim, com o outro. A mão nua representa uma quase morte, não de uma pessoa em si, mas de um sentimento, uma promessa, uma intenção. Parece também quase sepultar uma história, construída apesar dos tropeços, das dificuldades, dos desafios – ou, na verdade, exatamente pela mescla destes com as alegrias, realizações, conquistas. A mão nua anda agora sozinha.Não há mais o entrelaçar de dedos. Não há mais os afagos sem permissão.Tudo nela é contido. O gesto para alcançar. O aceno do adeus. A vontade de tocar. A outra mão às vezes vem em seu auxílio, repousa sobre ela para encobrir a nudez, evitar revelar sua vergonha. Que fracasso é esse tão absurdo que causou a perda de algo antes tão familiar? Há ainda como revertê-la? Há alguma chance de recuperar a aliança perdida?

A mão nua 2

A mão continua nua. Mas ela já se acostumou com a ausência. Quem teima em não aceitá-la é o coração, que ainda há pouco acreditava no retorno. Mas a boca que ainda desejo repetidas vezes já me disse não. Então já é mais do que tempo de me convencer que o abraço que às vezes ainda me enlaça é um engano. Que o olhar carinhoso apenas mente. Que a mão em minha direção já não me pertence. Preciso vivenciar esse luto com a verdadeira ausência. Essa presença que mantém uma rotina antiga só prolonga a esperança de que tudo voltará a ser como era. Mas não será. Tudo mudou, e já faz tempo. É tempo de reconhecê-lo. De recolher os pedaços, erguer-se e seguir um novo caminho. Quanto mais espero mais é longa a saudade, a esperança vã. A mão já não sente a ausência. Há de se dar tempo ao coração. (Leda Balbino)

Um comentário:

  1. Fazer a experiência de mergulhar em si mesmo não é para qualquer um. Os mediocres ficam no raso. Poucos suportam olhar não só para as coisas boas mas também para suas mazelas, suas tristezas. Parabéns.

    Outro dia peguei textos que escrevi há tempos. Eram momentos de angustia, de tristeza. Sorri. Foi bom ver como aquelas experiências fortaleceram-me, trouxeram confiança e o aprendizado de como lidar com elas.

    Carpe diem.

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