segunda-feira, 24 de maio de 2010

O fenômeno da autoajuda

Adoro rankings e listas. Por isso mesmo, já escrevi aqui que faço a minha própria. Dos piores e melhores livros, passando claro, pelos medianos. Classifico-os por meio de estrelas -- de zero a cinco. Só dou cinco quando o livro realmente é muito bom, quase perfeito, na minha concepção de simples leitora, claro, e não de crítica literária. Por adorar rankings, fuço sempre as tradicionais listas dos mais vendidos nas livrarias. E há anos não vemos novidade por aí. Exceto quando José Saramago ou Chico Buarque lançam algum título, o que costuma imperar nessas listas são os livros que viraram filmes recentemente, como o caso de Alice no País das Maravilhas, os religiosos ou de fundo religiosos como A Cabana e todos os que citam Chico Xavier na capa e, principalmente os de autoajuda. É impressionante como livros que trazem superação pessoal e profissional, lições das adversidades ou tratam de fórmulas de riquezas e felicidade vendem. Em todos os campos. Na esfera de negócios, temos aí o sucesso absoluto de James Hunter, com seu O Monge e o Executivo que fala do já batido líder servidor. Na esfera econômica, os livros de Gustavo Cerbasi, o milionário antes dos 30 anos, preenchem as estantes daqueles que torram todo o dinheiro, mas sonham com uma simples equação em 100 páginas que possam levá-los às fortunas. E na esfera pessoal, temos um festival de historinhas. Comer, Rezar, Amar, por exemplo, campeão das listas, é um simples relato da autora que tinha tudo o que queria, mas entrou em depressão após o divórcio e aí viajou ao redor do mundo em busca de sua recuperação. Livro de cabeceira de muitas mulheres pré ou pós divorciadas. Não quero (mesmo) julgar a escolha das pessoas. Confesso que nunca li nenhum desses títulos – nada que vá além de suas orelhas e críticas. Mas sempre me perguntei por que eles vendem tanto. Será que suas histórias são simples, fáceis e fascinantes ao ponto de arrebanhar milhares de leitores ou a humanidade é carente de finais felizes? Será que eles vendem pela propaganda que recebem antes? Pela posição que conseguem nas principais livrarias? Ou por aqueles que, ao entrar com vontade de adquirir algum volume na livraria, se deixam guiar pelo que a maioria já aprovou? Há tantas histórias boas sem lições de moral ou finais felizes, há tanta literatura rica que se perde por aí em meio às capas chamativas e salvadoras dos livros de autoajuda. Os clássicos da literatura e os bons contemporâneos são esmagados por tanta felicidade empacotada. Achar um livro do americano Jonathan Safran Foer em uma livraria, por exemplo, é uma façanha. Se tiver sorte, vai encontrar um exemplar. Eu realmente gostaria de entender esse fenômeno. Você tem alguma explicação? (Daniela Diniz)

2 comentários:

  1. Livros de autoajuda vendem tanto pois vivemos diante de uma geração sem referências. Nossos pais por mais que as referências as vezes não fossem boas eles ainda tinham algumas. Agora essa geração não contempla isso. Com isso as pessoas passam a correr pra algum lugar que pode ou não dar um sentido a sua existência ou sobrevivencia.
    @felipekido

    ResponderExcluir
  2. Acho que é uma combinação de todos os fatores citados no post. As pessoas vão à livraria e lembram dos títulos mais comentados no momento. Ao mesmo tempo, elas gostam dos livros com finais adornados e felizes. Eu tenho que confessar que prefiro os desfechos, digamos, mais "pé no chão" e menos "viveram felizes para sempre". Só não sei se compartilho do argumento de falta de referência. Adorno já falava da indústria cultural no séc XX. O problema de falta de referência é antigo.

    ResponderExcluir