
terça-feira, 22 de março de 2011
Descobrindo Benedetti

terça-feira, 15 de março de 2011
Os livros da minha década
No ano passado, completei dez anos de anotações sobre os livros que leio. Embora o hábito da leitura tenha sido adquirido quando eu ainda era criança (lá pelos oito anos), somente em 2000 comecei a avaliar de forma mais crítica os livros que passaram pelos meus olhos e classificá-los de acordo com meu entusiasmo com a leitura. A forma de classificação é bem simples: vai de uma a cinco estrelas. Os mais estrelados recebem alguns comentários ao lado, sobre forma, conteúdo ou passagens que considerei fantásticas. Divulgo hoje a lista dos meus livros cinco estrelas, dos livros que marcaram a minha década*. (Daniela Diniz)
Cem Anos de Solidão (Gabriel García Marquez)
Ensaio sobre a Cegueira (José Saramago)
Ficções do Interlúdio (Fernando Pessoa)
Madame Bovary (Gustave Flaubert)
Memórias do Subsolo (Fiódor Dostoievsky)
Desonra (J. M. Coetzee)
Sagarana (João Guimarães Rosa)
A Hora da Estrela (Clarice Lispector)
Todos os Fogos o Fogo (Julio Cortázar)
Elogio da Sombra (Jorge Luís Borges)
Quando Fui Outro (Fernando Pessoa)
A Legião Estrangeira (Clarice Lispector)
Extremamente Alto & Incrivelmente Perto (Jonathan Safran Foer)
A Morte de Ivan Ilitch (Liev Tolstói)
O fio das Missangas (Mia Couto)
O Retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde)
*A lista não está classificada por ordem de preferência, mas por ordem cronológica de leitura
quarta-feira, 9 de março de 2011
O Idioma Pessoa
Eu e Dani temos uma tradição. Nos nossos respectivos aniversários sempre nos damos de presente um livro. De narrativas que adoramos. De autores que amamos ou esperamos amar. De textos que queremos descobrir. Esse foi o caso de “O Livro do Desassossego”, de Pessoa, que ela menciona no belo post abaixo. Ele foi o presente que ganhei dela em 2002 e, no ano seguinte, tornou-se um volume cheio de trechos sublinhados a lápis, de descobrimentos que me espantaram. Pessoa é o que é não necessariamente por tocar na inevitável sensibilidade da alma, mas pela força com que escreve, descreve, narra-se, dono completo de palavras que lhe servem como um idioma próprio. É no “Livro do Desassossego” que Pessoa revela: “Eu não escrevo em português. Escrevo eu mesmo.” (Leda Balbino)
“Na face pálida e sem interesse de feições um ar de sofrimento não acrescentava interesse, e era difícil definir que espécie de sofrimento esse ar indicava – parecia indicar vários, privações, angústias, e aquele sofrimento que nasce da indiferença que provém de ter sofrido muito”
“Na palavra falada temos que ser, em absoluto do nosso tempo e lugar. (...) A palavra escrita, ao contrário, não é para quem a ouve, busca a quem a ouça, escolhe quem a entenda, e não se subordina a quem a escolhe”
“(...) não poderia deixar tudo isso sem chorar, sem compreender que, por mau que me parecesse, era parte de mim que ficava com eles todos, que o separar-me deles era metade e semelhança da morte”
“De repente estou só no mundo. Vejo tudo isto de um telhado espiritual. Estou só no mundo. Ver é estar distante. Ver claro é parar. Analisar é ser estrangeiro”
“Em mim foi sempre menor a intensidade das sensações que a intensidade da consciência delas. Sofri sempre mais com a consciência de estar sofrendo que com o sofrimento de que tinha consciência”
“Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir – é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida. (...) Esta madrugada é a primeira do mundo. Nunca esta cor rosa amarelecendo para branco quente pousou assim na face com que a casaria de oeste encara cheia de olhos vidrados o silêncio que vem da luz crescente. Nunca houve esta hora, nem esta luz, nem este meu ser”
“(...) amo-vos da amurada como um navio que passa por outro navio e há saudades desconhecidas na paisagem”
“(...) se a libertação não está em mim, não está, para mim, em parte alguma. (...) Condillac começa o seu livro célebre, ‘Por mais alto que subamos e mais baixo que desçamos, nunca saímos de nossas sensações’. Nunca desembarcamos de nós”
“Há em certas frases, em vários períodos, de coisas escritas a poucos passos da minha adolescência, que me parecem produto de tal qual sou agora, educado por anos e coisas. E, tendo sentido que estou hoje num progresso grande do que fui, pergunto onde está o progresso se então era o mesmo que sou hoje. (...) Como avancei para o que era? Como me conheci hoje o que me desconheci ontem? (…) Quanto sou? Quem é eu? O que é este intervalo que há entre mim e mim?”
sexta-feira, 4 de março de 2011
Livro de Cabeceira
Sempre que lia ou ouvia essa expressão ‘livro de cabeceira’, não entendia muito bem. Especialmente naqueles ping pongs que revistas de celebridades fazem com famosos nos quais o entrevistador pergunta todas as coisas tolas, como qual seu filme preferido? sua música favorita? e comida? um lugar inesquecível? Pronto! Está lá também a pergunta: qual seu livro de cabeceira? Livro de cabeceira afinal é aquele que não sai do seu criado-mudo (e, portanto você nunca termina) ou aquele que você está lendo no momento? Era a pergunta que eu sempre me fazia. Sim, porque muitos livros entram e saem da minha..vamos lá, cabeceira. Até que comecei a ler O Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa – ou Bernardo Soares, seu heterônimo. Na edição de bolso que tenho, da Cia das Letras, o livro – ou “O Livro” tem 524 páginas (sem contar as NOTAS FINAIS). O volume conta com 481 trechos, parágrafos ou pequenos textos (como queira definir) de prosa poética perfeita. Definições, delírios, alucinações, medos e preocupações – todos os sentimentos pensantes ou pensamentos sentimentais de Pessoa ou Soares estão ali. Não é um livro de contos, de poemas ou romance. Está mais para um diário sem tempo. E esse formato – e sua profundidade – permitem transformá-lo num perfeito livro de cabeceira. Daqueles que você abre antes de dormir, lê um dos trechos sem compromisso, sem remorso de ficar uma semana ou um mês sem pegá-lo novamente, pois o próximo trecho pode não ter nada a ver com o que você leu antes. E por isso mesmo, você pode dividir a leitura com outro livro. Sim, porque eu sou o tipo de leitora que gosta de ler um volume de cada vez. Nesse caso, não. O Livro do Desassossego virou meu livro de cabeceira. Está lá para alimentar algumas noites de insônia. O único risco que corro – e que já me aconteceu – é de passar um tempo desassossegada com alguns trechos como os que cito abaixo e, em vez de encontrar o sono, perdê-lo de vez. (Daniela Diniz)
terça-feira, 1 de março de 2011
Por que ler Mia Couto

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
A vida não é um livro aberto

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Resgate
Há algum tempo deixei esse blog para trás pelo maior motivo que pode existir na vida de um ser humano: ter um filho. E ter um filho nos dá desculpa para muitas coisas, inclusive para se ausentar do próprio prazer. No meu caso, da literatura. O ano passado foi o ano em que menos li. Talvez quatro ou cinco livros apenas. Mas foi o ano em que mais aprendi. E toda essa experiência adquirida me livrou de alguns preconceitos. Um deles foi o de usar clichês. Pois a maternidade permite todos eles. Ser mãe é estado único -- de graça, de glória, de benção, mas também exige um abandono de parte de si. Deixamos de fazer uma porção de coisas grandiosas para nos prender em coisas pequenas. O que não significa que nos apequenamos. Apenas mudamos o foco e o peso de algumas ações. Mas tudo, aos poucos, volta. Vamos resgatando parte de quem fomos e unindo às novas partes que agora nos pertence. Eu acreditava que esse tipo de texto não mais sairia de mim. Não há tempo para escrita vulgar. Prefiro ler algo de qualidade a escrever bobagens cotidianas e sentimentais. Mas esse exercício ainda me é importante. Pelos textos do passado, consigo entender melhor quem sou hoje e a razão de algumas atitudes. Uma espécie de terapia literária, como a Leda já escreveu aqui. E talvez por esse motivo, eu precise disso. Para me convencer no futuro de que os dias se parecem, mas não se repetem. De que os anos acumulam rugas e quilos, mas também experiência e sabedoria. De que personalidade é a base do ser humano, mas flexibilidade é a sua sobrevivência. E é dessa forma que volto, que recomeço, que me resgato. Hoje meu filho completa seis meses de vida, eu completo dez anos como jornalista da Editora Abril e páginas em branco me esperam para serem preenchidas – na profissão e na vida. (Daniela Diniz)