sexta-feira, 4 de março de 2011

Livro de Cabeceira

Sempre que lia ou ouvia essa expressão ‘livro de cabeceira’, não entendia muito bem. Especialmente naqueles ping pongs que revistas de celebridades fazem com famosos nos quais o entrevistador pergunta todas as coisas tolas, como qual seu filme preferido? sua música favorita? e comida? um lugar inesquecível? Pronto! Está lá também a pergunta: qual seu livro de cabeceira? Livro de cabeceira afinal é aquele que não sai do seu criado-mudo (e, portanto você nunca termina) ou aquele que você está lendo no momento? Era a pergunta que eu sempre me fazia. Sim, porque muitos livros entram e saem da minha..vamos lá, cabeceira. Até que comecei a ler O Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa – ou Bernardo Soares, seu heterônimo. Na edição de bolso que tenho, da Cia das Letras, o livro – ou “O Livro” tem 524 páginas (sem contar as NOTAS FINAIS). O volume conta com 481 trechos, parágrafos ou pequenos textos (como queira definir) de prosa poética perfeita. Definições, delírios, alucinações, medos e preocupações – todos os sentimentos pensantes ou pensamentos sentimentais de Pessoa ou Soares estão ali. Não é um livro de contos, de poemas ou romance. Está mais para um diário sem tempo. E esse formato – e sua profundidade – permitem transformá-lo num perfeito livro de cabeceira. Daqueles que você abre antes de dormir, lê um dos trechos sem compromisso, sem remorso de ficar uma semana ou um mês sem pegá-lo novamente, pois o próximo trecho pode não ter nada a ver com o que você leu antes. E por isso mesmo, você pode dividir a leitura com outro livro. Sim, porque eu sou o tipo de leitora que gosta de ler um volume de cada vez. Nesse caso, não. O Livro do Desassossego virou meu livro de cabeceira. Está lá para alimentar algumas noites de insônia. O único risco que corro – e que já me aconteceu – é de passar um tempo desassossegada com alguns trechos como os que cito abaixo e, em vez de encontrar o sono, perdê-lo de vez. (Daniela Diniz)

“Eu de dia sou nulo e de noite sou eu”

“Vivo mais porque vivo maior”

“Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir”

“Quero ser eu sem condições”

“O único modo de estarmos acordados com a vida é estarmos em desacordo com nós próprios”

Um comentário:

  1. Daniela, pelos trechos reproduzidos - principalmente o último - já deu vontade de ler mais. Tks pelo texto - sempre bom - e pela dica.
    abs,
    Grillo

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