O ensaio de Mario Vargas Llosa (Em Defesa do Romance) na última edição da Piauí foi um dos melhores textos que já li nos últimos meses. Um alívio para os olhos infectados depois da última reportagem rasa e estúpida da Galileu. Lá, além de um texto delicioso, encontrei várias respostas para nossas últimas indagações presentes aqui. Ele defende – não só o romance – mas a literatura em geral. Defende, sobretudo, as palavras. Sabe aquela história de que ler um livro não é mais fundamental? Llosa tem uma resposta à altura: “Uma pessoa que não lê, ou que lê pouco, ou que lê apenas porcarias, pode falar muito, mas dirá sempre poucas coisas, porque para se exprimir dispõe de um repertório reduzido e inadequado de vocábulos. Não se trata apenas de um limite verbal; é, a um só tempo, um limite intelectual e de horizonte imaginário, uma indigência de pensamentos e de conhecimentos, porque as ideias, os conceitos, mediante os quais nos apropriamos da realidade e dos segredos da nossa condição, não existem dissociados das palavras, por meio das quais as reconhece e define a consciência. Aprende-se a falar com precisão, com profundidade, com rigor e agudeza, graças à boa literatura, e apenas graças a ela.” Depois disso tudo, dá vontade de calar. Eu não precisaria ler mais nada mas o ensaio não acaba aí. Ele também tem uma resposta magnífica para a discussão sobre a morte do livro pela tecnologia. “Pode o monitor substituir o livro em todos os casos, como afirma o criador da Microsoft? Não estou seguro disso. Digo isso sem negar, de modo algum, a revolução que no campo das comunicações e da informação representou o desenvolvimento de novas técnicas (...); mas daí a admitir que a tela eletrônica possa substituir o papel no que concerne às leituras literárias há uma lacuna que não consigo preencher. Simplesmente não sou capaz de aceitar a ideia de que a leitura não funcional nem prática, a que não busca uma informação nem uma comunicação de utilidade imediata, possa conviver na tela de um computador com o sonho e com a fruição da palavra, gerando a mesma sensação de intimidade, a mesma concentração e o mesmo isolamento espiritual do livro.” Enquanto o livro representar sonho, intimidade e provocar o isolamento fundamental, ele viverá, independentemente de telas frias, objetivas e públicas. Foi a melhor resposta que encontrei para o atual dilema, que me deixou sem mais palavras. (Daniela Diniz)
terça-feira, 27 de outubro de 2009
As respostas de Llosa
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
A Poesia, por Ferreira Gullar
Antes de escolher o jornalismo, as palavras me escolheram, e foram elas, por fim, que me incitaram o desejo de ter como ofício a escrita nas redações. Sempre li os jornais de trás para frente, pois, além da literatura, o que sempre me interessou mais foi a área de internacional - na qual trabalho há quase sete anos. Mas sempre fica essa ponta de dúvida se não seria mais feliz cobrindo cultura em um caderno ou revista quaisquer. Essa vontade me bateu novamente no dia 16, quando li o número 2 do semanal Outlook, do novo jornal Brasil Econômico. Textos bem escritos, temas menos áridos do que os conflitos afegão, iraquiano e entre Israel e palestinos, e como desfecho uma entrevista-pérola com o poeta Ferreira Gullar. Deve ser uma experiência interessante entrevistar um escritor. Você não precisa ter um conhecimento prévio do ano histórico da assinatura histórica de um acordo histórico para a paz mundial. Basta saber a vida daquele autor, ter-se deliciado previamente com algumas de suas obras e deixar à flor da pele a sensibilidade necessária para saber ouvir alguém de sensibilidade ímpar. No meio da entrevista, a repórter faz a pergunta inusitada, incomum, surpreendente até: "Você se comove?" A um político, para quem poderia soar como pueril ou intrometida, a questão parece improvável, mas para esse poeta - e essa entrevista - foi imprescindível. "Se eu me comovo? Não faço outra coisa na vida a não ser me comover. Tenho de me segurar, eu não quero ser desintegrado pela emoção, ela não é uma coisa boa. O (poeta inglês) TS Elliot dizia que escrevia para se livrar da emoção. Porque ela vulnerabiliza. A poesia é para trazer alegria, não provocar emoção", respondeu. Não contente, a jornalista voltou à carga: "Mas a gente pode se emocionar, pode chorar lendo um poema..." Ao que Gullar foi categórico: "Não é o poema que comove, é a lembrança que ele provoca. O que o poeta faz é a alquimia do sofrimento em alegria. Nenhum poeta escreve para fazer sofrer, quem diz isso diz mentira. A poesia não foi feita para torturar, para magoar ninguém. Quando alguém força para provocar o choro é outra coisa, é dramalhão, sentimentalismo, não é poesia. A poesia é alegria estética." (Leda Balbino)
O Fim do Livro 2
Uma pesquisa realizada pelos organizadores da 61ª Feira do Livro de Frankfurt, que ocorreu entre os dias 14 e 18 deste mês, vaticinou: o livro digital superará o impresso em meros nove anos – precisamente, 2018. A previsão foi feita a partir de consultas com editores, livreiros, escritores e jornalistas, majoritariamente europeus, num total de 840 pessoas. A crise econômica, segundo os entrevistados, seria o principal estimulante para a mudança, por causa do alto custo da produção do modelo em papel. Ou seja, pode ser que, até 2018, “à medida que os fundos de catálogo passem a ser oferecidos eletronicamente, o digital ultrapasse o papel em termos de importância econômica para as editoras”, disse a diretora editorial da brasileira Record, Luciana Villas-Boas, em relação especificamente aos EUA e a alguns países da Europa (http://www.estadao.com.br/