sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A Poesia, por Ferreira Gullar


Antes de escolher o jornalismo, as palavras me escolheram, e foram elas, por fim, que me incitaram o desejo de ter como ofício a escrita nas redações. Sempre li os jornais de trás para frente, pois, além da literatura, o que sempre me interessou mais foi a área de internacional - na qual trabalho há quase sete anos. Mas sempre fica essa ponta de dúvida se não seria mais feliz cobrindo cultura em um caderno ou revista quaisquer. Essa vontade me bateu novamente no dia 16, quando li o número 2 do semanal Outlook, do novo jornal Brasil Econômico. Textos bem escritos, temas menos áridos do que os conflitos afegão, iraquiano e entre Israel e palestinos, e como desfecho uma entrevista-pérola com o poeta Ferreira Gullar. Deve ser uma experiência interessante entrevistar um escritor. Você não precisa ter um conhecimento prévio do ano histórico da assinatura histórica de um acordo histórico para a paz mundial. Basta saber a vida daquele autor, ter-se deliciado previamente com algumas de suas obras e deixar à flor da pele a sensibilidade necessária para saber ouvir alguém de sensibilidade ímpar. No meio da entrevista, a repórter faz a pergunta inusitada, incomum, surpreendente até: "Você se comove?" A um político, para quem poderia soar como pueril ou intrometida, a questão parece improvável, mas para esse poeta - e essa entrevista - foi imprescindível. "Se eu me comovo? Não faço outra coisa na vida a não ser me comover. Tenho de me segurar, eu não quero ser desintegrado pela emoção, ela não é uma coisa boa. O (poeta inglês) TS Elliot dizia que escrevia para se livrar da emoção. Porque ela vulnerabiliza. A poesia é para trazer alegria, não provocar emoção", respondeu. Não contente, a jornalista voltou à carga: "Mas a gente pode se emocionar, pode chorar lendo um poema..." Ao que Gullar foi categórico: "Não é o poema que comove, é a lembrança que ele provoca. O que o poeta faz é a alquimia do sofrimento em alegria. Nenhum poeta escreve para fazer sofrer, quem diz isso diz mentira. A poesia não foi feita para torturar, para magoar ninguém. Quando alguém força para provocar o choro é outra coisa, é dramalhão, sentimentalismo, não é poesia. A poesia é alegria estética." (Leda Balbino)

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