Ao mesmo tempo, são tão contraditórios. Embora falem muito mal do governo, dizem que não são contra o governo. Ao mesmo tempo em que reclamam do fato de não poder ir e vir e de sentir um medo constante de represálias (só duas pessoas das mais de 10 com quem conversei me autorizaram a publicar seus nomes), dizem que seu único problema é econômico. Que, se a economia estivesse bem, tudo estaria bem. Segundo um dissidente político, é mentira. As pessoas querem sim uma mudança de governo, estão cansadas de ter negado o direito a ter direitos civis. O direito de se autodeterminar. O direito de usar seu potencial, sua criatividade, e prosperar (não apenas economicamente, mas em tudo).
Os cubanos são adoráveis, e extremamente inteligentes, amáveis, muitos deles cultos. Todos sabem se expressar ou, parafraseando Saramago, transformar em palavras um pensamento metafísico. São orgulhosos de ser cubanos, de terem feito a Revolução que tanto fascina o mundo, de terem o "cavallo" Fidel. Mas visivelmente estão cansados do sistema. Nas ruas muitas pessoas caminham tristemente alegres. Não são necessárias perguntas para que comecem a reclamar da vida, da situação do país. Há um desejo implícito de mudança. Há esgotamento, a frustração de sonhos e promessas não cumpridos. Há a falta de perspectivas, uma preguiça, uma sensação de que não vale a pena.
Há escuridão. Como a cidade quase não é iluminada à noite, para identificar um táxi é necessário contar com os faróis. Há o improviso. Carros velhíssimos fazem às vezes de transporte público. Homens pedalam as bicitáxis para transportar cubanos, e podem perder sua licença de trabalho se forem vistos levando turistas. Mas eles se arriscam, porque os estrangeiros pagam mais e, claramente, valem mais do que a população local. Lagostas estão proibidas para os cubanos, que não podem pescá-las sem uma licença. Elas são para exportação ou para os turistas que quase já não mais lotam os hotéis. Para conseguir comprá-las, os cubanos contam com o mercado negro. Para mostrar o quando seria caro em relação ao salário daqui, uma cubana comparou seu preço a de um diamante.
E há o temor. Não apenas de represália por terem seu nome vinculado a uma crítica ao regime, mas do futuro. O que ocorrerá quando mais de 500 mil pessoas forem demitidas, na primeira vez em que o governo tornará oficial o desemprego, antes artificialmente
Em Havana há um grande medo do futuro. Mas, ao mesmo tempo, a frustrada certeza de que - infelizmente - tudo mudará para continuar o mesmo. (Leda Balbino, de Havana)
Nenhum comentário:
Postar um comentário