terça-feira, 18 de agosto de 2009
As Palavras de Clarice
Foi lançado neste mês pela Oxford University Press o livro Why This World, biografia da escritora Clarice Lispector escrita pelo americano Benjamin Moser. Com 32 anos, Moser dedicou cinco anos à obra e, para escrevê-la, contou com a ajuda dos parentes e amigos de Clarice e viajou para a Ucrânia, país de origem da autora, para colher mais dados para a biografia. Fluente em oito idiomas, a paixão de Moser pela escritora começou na década de 90, quando leu A Hora da Estrela durante um curso de português na Universidade de Brown. Nascida como Chaya (ou vida, em hebraico) em 1920, Clarice só foi chamada de Clarice quando sua família imigrou para o Brasil, depois de escapar da fome no Leste Europeu e dos pogroms – perseguições aos judeus durante a Revolução Russa, em 1917, e sua subseqüente Guerra Civil. Ela era a mais jovem de três filhas, tendo sido concebida por causa de uma crença da região nativa da família de que a gravidez purificava o corpo da mãe. Segundo depoimentos colhidos por Moser, sua mãe Mania (no Brasil, Marieta) havia contraído sífilis ao ser estuprada por soldados russos. A morte dela em 1930 estaria diretamente ligada à decisão de Clarice de se tornar escritora, opina Moser. “Quando menina, ela contava histórias em que um deus ex-machina aparecia para curar a mãe”, disse em entrevista ao Estado (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090816/not_imp419423,0.php).Clarice explicou essa sensação de “fracasso” em A Descoberta do Mundo: “Fui deliberadamente criada: com amor e esperança. Só que não curei minha mãe. E sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me para uma missão determinada e eu falhei. Como se contassem comigo nas trincheiras de uma guerra e eu tivesse desertado. Sei que meus pais me perdoaram eu ter nascido em vão e tê-los traído na grande esperança. Mas eu, eu não me perdoo.” Essa angústia, diz Moser, gerou em Clarice o “desejo de salvar o mundo pela palavra”. Obs.: Ainda sem título em português, Why This World será publicado no Brasil pela Cosac Naify em novembro, com material fotográfico inédito sobre a escritora. (Leda Balbino)
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Nossa que bacana!!!O que você escreveu a respeito do escritor que fará a biografia e sobre Clarice Lispector é muito bom. Eu não sabia que Clarice não era do Brasil. Li as obras da autora somente para prestar o vestibular. Rubem Alves tem razão quando diz que "quem aprende resumos de obras literárias para passar, aprende mais do que isso: aprende a odiar a literatura."
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