terça-feira, 4 de agosto de 2009

TRIBUTO

Como se obtém o hábito de leitura? Com certeza é necessário ter pessoas que nos estimulem desde pequenas. No meu caso foi meu pai. Migrante de Arapiraca, Alagoas, meu pai foi analfabeto até os 20 anos de idade, quando se deixou levar por seu autodidatismo e aprendeu a ler sozinho usando os anúncios luminosos das ruas de São Paulo. E por ter sido privado na infância e na adolescência da liberdade de ler, meu pai acabou tornando-se um entusiasta da educação e da importância que os livros têm na formação de uma pessoa. Desde pequena ouvia sua insistente repetição “É importante ler livros; educar para crescer”, ou qualquer outra frase que tivesse alguma oração com livro e educação. Como não deixo de ser obediente, apesar de toda minha aparente rebeldia, segui seus conselhos. Ou recorri aos livros porque queria agradá-lo ou não decepcioná-lo ou deixá-lo orgulhoso. Bom, qualquer que seja o motivo, devorei os 17 volumes da edição antiga da coleção infantil de Monteiro Lobato, aquelas de capa dura e poucas ilustrações. Como “só um livro lido nos pertence realmente” (Eno Teodoro Wanke), a coleção inteira – que habitou minha infância de Narizinho, Emília, Dona Benta, Pedrinho, Visconde de Sabugosa, Anastácia – acompanha-me hoje, na estante de minha casa. Meu pai soube que ela me pertencia: só eu de seus seis filhos a leu inteira. E posso dizer que foi essa coleção, as palavras de Monteiro Lobato, que me mostraram que a vida é muito mais do que nossa própria vida. Não estamos sozinhos. Por isso agradeço meu pai. Agradeço sua percepção imensa, mesmo com seus primeiros 20 anos de solidão sem palavras lidas, de que ler nos salva de nós mesmos. Essa é a melhor herança que qualquer pai pode deixar a um filho. (Leda Balbino)

Um comentário:

  1. Oi Leda,

    Que história bonita.... Não sabia que o seu pai era alagoano de Arapiraca. A minha família é de lá. Lindo exemplo.

    Beijos,

    Isa (Ou Bela - A Divorciada)

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