Disse que Memorial do Convento tem uma das mais belas histórias de amor que já li. Abaixo segue citação pinçada do livro, para confirmar minha afirmação. Repare que, apesar do estilo difícil, que usa a vírgula como se fossem todos os pontos a que temos direito (o de exclamação, de interrogação, o ponto final, a reticência, os dois pontos etc.), a construção das frases permite perceber quem fala o quê, onde há pausa, onde há ênfase. É o jeito saramaguiano de narrar. De uma beleza que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Literatura, em 1998. (Leda Balbino)
“(...) aí vem justamente uma mulher, e onde nós víamos um homem velho, vê ela um homem novo, o soldado a quem perguntou um dia, Que nome é o seu, ou nem sequer a esse vê, apenas a este homem que desce, sujo, canoso e maneta, Sete-Sóis de alcunha, se a merece tanta canseira, mas é um constante sol para esta mulher, não por sempre brilhar, mas por existir tanto, escondido de nuvens, tapado de eclipses, mas vivo, Santo Deus, e abre-lhe os braços, Quem, abre-os ele a ela, abre-os ela a ele, ambos, são o escândalo da vila de Mafra, agarrarem-se assim um ao outro na praça pública, e com idade de sobra, talvez seja porque nunca tiveram filhos, talvez porque se vejam mais novos do que são, pobres cegos, ou porventura serão estes os únicos seres humanos que como são se vêem, é esse o modo mais difícil de ver, agora que eles estão juntos até os nossos olhos foram capazes de perceber que se tornaram belos.”
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário