Quando era mais nova, adolescente, sentia-me quase sempre inspirada. Os dramas do amor platônico eram uma infinita fonte de ideias para textos lamurientos, cheios de autocomiseração. Também havia o “ócio criativo”, como bem classificou o italiano Domenico De Masi. Com a única obrigação de estudar, me sobrava tempo para digitar – ou, inicialmente, bater à máquina – meus textos, imprimi-los e arquivá-los em pastas, que guardo até hoje. Mas com o passar do tempo e o acúmulo de funções (e preocupações), posso confessar que minha inspiração escasseou. Meu processo de escrita atualmente é bem lento. Geralmente fico dias com uma ideia na cabeça – que pode ser a primeira frase de um texto, seu título ou sua concepção geral –, até que possa colocá-la no papel. Às vezes, claro, acontece de ela me bater de repente e com força, então tenho de sentar sob o risco de, se não o fizer, deixá-la escapar. Às vezes me questiono como é o processo de escrita dos grandes autores, principalmente considerando-se seu trabalho de escrever livros, e não meros textos curtos. Quanto há de inspiração? Quanto há de transpiração? O português José Saramago parece se deixar levar – é o livro, e a história, que o dominam; ela se escreve por meio dele. Já o colombiano Gabriel García Márquez é um estrategista: ele planeja o livro todo com antecedência; sabe seu início, meio e fim. Quem leu a obra-prima “Cem Anos de Solidão” saberá o que digo. Márquez parece ter em parte a mesma filosofia que o pernambucano João Cabral de Mello Neto. Conhecido como “arquiteto da poesia”, uma vez ele foi questionado: “Você nunca escreve inspirado?” Ao que respondeu: “Sim”, para imediatamente completar: “Mas depois jogo fora.” (Leda Balbino)
segunda-feira, 20 de julho de 2009
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Muito interessante, Leda.
ResponderExcluirBeijos,
Isa (para vc e para a Dani, ou Bela - A Divorciada)
Olá Leda!! Finalmente estou visitando seu blog. Virei mais vezes. Nossa, exceto pela máquina de escrever eu sou igualzinha. Já fiquei um ano inteiro pensando planejando o que eu ia escrever, cozinhando uma história...
ResponderExcluirbjs, Marta