Sou irmã do meio, o miolo entre um irmão mais velho e uma irmã mais nova. E, como todo mundo que tem irmãos, já passei por algumas fases da vida de dividir o cargo de irmã mais nova e mais velha ao mesmo tempo, o que me fez pensar nesse texto há algum tempo. Passei pela fase do medo, do descobrimento, do compartilhamento, da raiva, do descaso, do cuidado e da admiração. Vivi cada uma delas – às vezes de forma intensa; outras, descompromissada. Dividi casa de pai e mãe com irmãos; dividi um apartamento só com eles; dividi por quase a vida toda um quarto com minha irmã. Dividi bons momentos da minha vida ao lado deles. Momentos que voltam de forma tão simples e tão fácil. Basta uma palavra e um mundo de recordações nos toma. Reunião de irmãos é encontro de lembranças. E isso faz tão bem à alma. Eu encontrei meus irmãos outro dia, num feriado de sol e como falamos bobagens. Reunião de irmão não precisa de pauta para ter assunto. O passado rende pelo presente. E foi assim. Rimos daquilo que vivemos juntos e dividimos juntos. Irmãos nos tornam múltiplos sendo nós apenas únicos. Eles carregam um pouco do que fomos e daquilo que vamos ainda ser. Ter irmão é conhecer da melhor forma o sentido da palavra cumplicidade. Pois são muitas as pessoas que passam
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Amor de irmão
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Os próximos títulos
terça-feira, 27 de outubro de 2009
As respostas de Llosa
O ensaio de Mario Vargas Llosa (Em Defesa do Romance) na última edição da Piauí foi um dos melhores textos que já li nos últimos meses. Um alívio para os olhos infectados depois da última reportagem rasa e estúpida da Galileu. Lá, além de um texto delicioso, encontrei várias respostas para nossas últimas indagações presentes aqui. Ele defende – não só o romance – mas a literatura em geral. Defende, sobretudo, as palavras. Sabe aquela história de que ler um livro não é mais fundamental? Llosa tem uma resposta à altura: “Uma pessoa que não lê, ou que lê pouco, ou que lê apenas porcarias, pode falar muito, mas dirá sempre poucas coisas, porque para se exprimir dispõe de um repertório reduzido e inadequado de vocábulos. Não se trata apenas de um limite verbal; é, a um só tempo, um limite intelectual e de horizonte imaginário, uma indigência de pensamentos e de conhecimentos, porque as ideias, os conceitos, mediante os quais nos apropriamos da realidade e dos segredos da nossa condição, não existem dissociados das palavras, por meio das quais as reconhece e define a consciência. Aprende-se a falar com precisão, com profundidade, com rigor e agudeza, graças à boa literatura, e apenas graças a ela.” Depois disso tudo, dá vontade de calar. Eu não precisaria ler mais nada mas o ensaio não acaba aí. Ele também tem uma resposta magnífica para a discussão sobre a morte do livro pela tecnologia. “Pode o monitor substituir o livro em todos os casos, como afirma o criador da Microsoft? Não estou seguro disso. Digo isso sem negar, de modo algum, a revolução que no campo das comunicações e da informação representou o desenvolvimento de novas técnicas (...); mas daí a admitir que a tela eletrônica possa substituir o papel no que concerne às leituras literárias há uma lacuna que não consigo preencher. Simplesmente não sou capaz de aceitar a ideia de que a leitura não funcional nem prática, a que não busca uma informação nem uma comunicação de utilidade imediata, possa conviver na tela de um computador com o sonho e com a fruição da palavra, gerando a mesma sensação de intimidade, a mesma concentração e o mesmo isolamento espiritual do livro.” Enquanto o livro representar sonho, intimidade e provocar o isolamento fundamental, ele viverá, independentemente de telas frias, objetivas e públicas. Foi a melhor resposta que encontrei para o atual dilema, que me deixou sem mais palavras. (Daniela Diniz)
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
A Poesia, por Ferreira Gullar
Antes de escolher o jornalismo, as palavras me escolheram, e foram elas, por fim, que me incitaram o desejo de ter como ofício a escrita nas redações. Sempre li os jornais de trás para frente, pois, além da literatura, o que sempre me interessou mais foi a área de internacional - na qual trabalho há quase sete anos. Mas sempre fica essa ponta de dúvida se não seria mais feliz cobrindo cultura em um caderno ou revista quaisquer. Essa vontade me bateu novamente no dia 16, quando li o número 2 do semanal Outlook, do novo jornal Brasil Econômico. Textos bem escritos, temas menos áridos do que os conflitos afegão, iraquiano e entre Israel e palestinos, e como desfecho uma entrevista-pérola com o poeta Ferreira Gullar. Deve ser uma experiência interessante entrevistar um escritor. Você não precisa ter um conhecimento prévio do ano histórico da assinatura histórica de um acordo histórico para a paz mundial. Basta saber a vida daquele autor, ter-se deliciado previamente com algumas de suas obras e deixar à flor da pele a sensibilidade necessária para saber ouvir alguém de sensibilidade ímpar. No meio da entrevista, a repórter faz a pergunta inusitada, incomum, surpreendente até: "Você se comove?" A um político, para quem poderia soar como pueril ou intrometida, a questão parece improvável, mas para esse poeta - e essa entrevista - foi imprescindível. "Se eu me comovo? Não faço outra coisa na vida a não ser me comover. Tenho de me segurar, eu não quero ser desintegrado pela emoção, ela não é uma coisa boa. O (poeta inglês) TS Elliot dizia que escrevia para se livrar da emoção. Porque ela vulnerabiliza. A poesia é para trazer alegria, não provocar emoção", respondeu. Não contente, a jornalista voltou à carga: "Mas a gente pode se emocionar, pode chorar lendo um poema..." Ao que Gullar foi categórico: "Não é o poema que comove, é a lembrança que ele provoca. O que o poeta faz é a alquimia do sofrimento em alegria. Nenhum poeta escreve para fazer sofrer, quem diz isso diz mentira. A poesia não foi feita para torturar, para magoar ninguém. Quando alguém força para provocar o choro é outra coisa, é dramalhão, sentimentalismo, não é poesia. A poesia é alegria estética." (Leda Balbino)
O Fim do Livro 2
Uma pesquisa realizada pelos organizadores da 61ª Feira do Livro de Frankfurt, que ocorreu entre os dias 14 e 18 deste mês, vaticinou: o livro digital superará o impresso em meros nove anos – precisamente, 2018. A previsão foi feita a partir de consultas com editores, livreiros, escritores e jornalistas, majoritariamente europeus, num total de 840 pessoas. A crise econômica, segundo os entrevistados, seria o principal estimulante para a mudança, por causa do alto custo da produção do modelo em papel. Ou seja, pode ser que, até 2018, “à medida que os fundos de catálogo passem a ser oferecidos eletronicamente, o digital ultrapasse o papel em termos de importância econômica para as editoras”, disse a diretora editorial da brasileira Record, Luciana Villas-Boas, em relação especificamente aos EUA e a alguns países da Europa (http://www.estadao.com.br/
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Será o Fim do Livro?
terça-feira, 6 de outubro de 2009
Apologia à ignorância
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
Um lugar de destaque para O Último Leitor
Abaixo, algumas críticas extraídas da análise de Lucio, por David Toscana:
“A palavra horror é uma ilusão do escritor, pretende criar uma tensão inexistente, porque é óbvio que o negro não vai morrer, tudo é tão óbvio: os brancos falam de uma rameira e o negro menciona Deus, os brancos bebem Bourbon e o suor do negro nem fede. Lucio retorna a sua escrivaninha e abre o livro na última página para confirmar a lição de moral que já estava esperando.”
“Tomou cuidado para que fosse um romance recente pois estes não se preocupam mais em descrever os detalhes de um prato, a menos que sejam de escritoras ou, pelo menos, de algum latino-americano que no começo acreditou que a literatura corrigia males sociais e como passar dos anos preferiu entreter senhoras de sapatos de verniz que lhe pediam autógrafos entre lisonjas e bajulação e amor pelo que é estrangeiro, porque um dia fui povo, minhas senhoras, mas agora sou afrancesado ou germanista ou bulgarista.”
“O narrador se sentava à mesa e dizia: Sara escolheu uma esplêndida garrafa de Château Certan-Marzelle 98 para acompanhar a salada périgourdine, a coccotte de porc à l’ananas e o brie de Coulommiers, e como sobremesa mandou que fossem servidos crepes aux moules preparados com um magnífico vin de paille. Essas linhas e a descrição que seguia sobre mais quitutes e garrafas e vocábulos em itálico não provocaram a menor reação em seu estômago. Para mim, com esses nomes estrangeiros, dá na mesma se estão de comida ou de peças de reposição para uma máquina....censurou o romance na página 39”
“Tempos atrás Lucio fez uma experiência: enquanto lia Olhos insones, usou um pincel para passar mel nos parênteses e travessões que tanto usam certos autores com o propósito de subordinar ou intrincar as frases. Para Lucio, esses símbolos são concessões que a gramática faz aos escritores canhestros, aqueles que não atinam com o modo de encadear as frases de maneira natural, lisa.”
“Você sabia que de cada 28 páginas só uma é lida? Porque existem livros que são dados para gente que não lê, porque caem numa biblioteca sem usuários, porque são adquiridos para fazer volume numa estante, porque são dados na compra de outro produto, porque o leitor perde o interesse desde o primeiro capítulo, porque nunca saem do depósito do impressor, porque os livros também são comprados por impulso.”
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Herança
Encontro velhos escritos em uma agenda velha. Escritos meus, escritos de outros, palavras que moldaram minha alma daquele tempo e deixaram ressonâncias na de hoje. Lendo-as agora, com olhos já não de antes, percebo o quanto determinaram meus passos e sonhos, minhas pretensões. Minha alma é, de certa forma, a dos escritores que tanto falaram a ela, tanto a inspiraram, encravando em minha mente sua forma particular de ver o mundo e de atuar nele. Sou todas essas palavras que li e imensamente amei, ao ponto de reproduzi-las letra a letra, sílaba a sílaba, ao lado de palavras minhas em agendas em que relatava meus dias. As incorporei aos meus gestos, à minha maneira de agir no mundo e com o próximo. As tomei ao pé da letra na forma como tentei construir minha carreira e na forma como tantas vezes ainda projeto sonhos de antes para o futuro. Esses escritores que tanto me inspiraram e inspiram são uma herança sagrada para aquela que ainda serei. (Leda Balbino)
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
O idioma de Mia Couto
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Os sons e os cheiros de Portugal
Passei uma semana em Portugal. Revisitei Lisboa, Sintra, Coimbra e Porto. Conheci Cascais e Guimarães. Emocionei-me com o Tejo novamente. Portugal me encanta. Pela história – linda, nossa, tão intensa. Pelas suas ruas azulejadas, pelos varais de roupa, pelo cheiro de doces nas calçadas. Encanta-me, sobretudo, seu português sem ruídos. O som do português. A ausência do feio gerúndio em suas frases. Ninguém lá está fazendo nada. Todos estão a fazer alguma coisa. Lá não existe “a gente” mas “nós”. E conjugam pessoas e verbos de forma correta. Gosto do som de Portugal. De sentir nas ruas de Lisboa um pouco de Pessoa. De olhar o Tejo e lembrar de Camões, dos navegadores, dos descobrimentos, de tantos que lá ficaram e provocaram versos imortais. Do triste amor de Inês. Da pujança real e seus palácios formidáveis. Dos castelos, da história medieval que permanece intacta no mundo contemporâneo. Volto num tempo que não vivi. E por isso voltarei mais vezes àquela terra. Sentirei mais os cheiros de doces e sardinhas nas brasas do Porto. Ouvirei o chorado fado. Lerei sempre Pessoa, Camões e também Saramago, na constante busca do português perfeito. (Daniela Diniz)
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Exemplo de Vida
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Mais Estranho que a Ficção
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Sobre o coração
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
A Leitura no Brasil
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
O amor, segundo Saramago
“(...) aí vem justamente uma mulher, e onde nós víamos um homem velho, vê ela um homem novo, o soldado a quem perguntou um dia, Que nome é o seu, ou nem sequer a esse vê, apenas a este homem que desce, sujo, canoso e maneta, Sete-Sóis de alcunha, se a merece tanta canseira, mas é um constante sol para esta mulher, não por sempre brilhar, mas por existir tanto, escondido de nuvens, tapado de eclipses, mas vivo, Santo Deus, e abre-lhe os braços, Quem, abre-os ele a ela, abre-os ela a ele, ambos, são o escândalo da vila de Mafra, agarrarem-se assim um ao outro na praça pública, e com idade de sobra, talvez seja porque nunca tiveram filhos, talvez porque se vejam mais novos do que são, pobres cegos, ou porventura serão estes os únicos seres humanos que como são se vêem, é esse o modo mais difícil de ver, agora que eles estão juntos até os nossos olhos foram capazes de perceber que se tornaram belos.”
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
O papel do ensino
terça-feira, 18 de agosto de 2009
As Palavras de Clarice
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
A FUNÇÃO DO ESCRITOR
A Função da Arte/ 1
Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul.
Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.
Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.
E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
– Me ajuda a olhar!
Depois de também ficar muda de beleza, folheei as páginas do livro, à busca de outros singelos instantes literários, tão bem contidos em textos curtos. E os encontrei. Como não poderia deixar de ser, comprei o livro e ele me levou a outros tantos do mesmo autor, o primeiro a quem fui fiel. Hoje, apesar de meus olhos amadurecidos serem mais críticos com sua literatura do que antes, Galeano ainda me emociona, tantas vezes. Abaixo seguem alguns exemplos do porquê.
“Perdi várias coisas em Buenos Aires. Pela pressa ou por azar, ninguém sabe onde foram parar. (...) Não me queixo. Com tantas pessoas perdidas, chorar pelas coisas seria desrespeitar a dor.” (Dias e Noites de Amor e de Guerra)
“Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, a voz humana não encontra quem a detenha. Se lhe negam a boca, ela fala pelas mãos, ou pelos olhos, ou pelos poros, ou por onde for. Porque todos, todos, temos algo a dizer aos outros, alguma coisa, alguma palavra que merece ser celebrada ou perdoada pelos demais.” (O Livro dos Abraços)
“(...) da pena que dá sentir-se estrangeiro e andar à intempérie e sozinho e não ter a quem dizer isso, nem conhecer as palavras.” (A Canção de Nossa Gente)
“Chegará a hora de ficar triste. Anos para ficar triste. E toda a morte, que é tão longa. Agora não. Não temos direito.” (A Canção de Nossa Gente)
“(...) há tantas coisas que você vai ter que aprender, Tavito. As coisas invisíveis, as difíceis, a brecha que espera por você entre o desejo e o mundo: você apertará os dentes, resistirá, nunca pedirá nada. Não se vive para vencer os outros, Tavito. Vive-se para se dar.” (Vagamundo)
“A Função do Leitor/1
Quando Lucia Peláez era pequena, leu um romance escondida. Leu aos pedaços, noite após noite, ocultando o livro debaixo do travesseiro. Lucia tinha roubado o romance da biblioteca de cedro onde seu tio guardava os livros preferidos.
Muito caminhou Lucia, enquanto passavam-se os anos. (...) Muito caminhou Lucia, e ao longo de seu caminhar ia sempre acompanhada pelos ecos daquelas vozes distantes que ela tinha escutado, com seus olhos, na infância.
Lucia não tornou a ler aquele livro. Não o reconheceria mais. O livro cresceu tanto dentro dela que agora é outro, agora é dela.” (O Livro dos Abraços) -- Leda Balbino
terça-feira, 4 de agosto de 2009
TRIBUTO
terça-feira, 28 de julho de 2009
Palavras além das histórias
(Ordenar a biblioteca é exercer, de modo silencioso e modesto, a arte da crítica.)
Jorge Luis Borges, em Elogio da Sombra
(Também os homens podem prometer, porque na promessa há algo imortal)
Idem
"Diante de algumas pessoas, é imperioso fingir-se de idiota para que não nos tomem por idiota"
Julio Cortázar, em Diário de Andrés Fava
"Eu era o único eu"
Clarice Lispector, em A Legião Estrangeira
"E não quero formar a vida porque a existência já existe. Existe como um chão onde nós todos avançamos. Sem uma palavra de amor. Sem uma palavra. Mas teu prazer entende o meu. Nós somos fortes e nós comemos. Pão é amor entre estranhos."
Idem
"Amor é quando é concedido participar um pouco mais"
Idem
"Tu estavas, avó, sentada na soleira da tua porta, aberta para a noite estrelada e imensa, para o céu de que nada sabias e por onde nunca viajarias, para o silêncio dos campos e das árvores assombradas, e disseste, com a serenidade dos teu noventa anos e o fogo de uma adolescência perdida: 'o mundo é tão bonito e eu tenho tanta pena de morrer'. Assim mesmo. Eu estava lá."
José Saramago, em As Pequenas Memórias
"As mãos são dois livros abertos, não pelas razões, supostas ou autênticas da quiromancia, com as suas linhas do coração e da vida, da vida, meu senhores, ouviram bem, da vida, mas porque falam quando se abrem ou se fecham, quando acareciam ou golpeiam, quando enxugam uma lágrima ou disfarçam um sorriso, quando se pousa sobre um ombro ou acenam um adeus, quando trabalham, quando estão quietas, quando dormem, quando despertam..."
José Saramago, em As Intermitências da Morte
"Portanto, não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal."
Mateus 6. 34
"Minha mãe não dispunha dessas vantagens. E com certeza se amofinava, coitada, revendo-se em nós, percebendo cá fora, soltos dela, pedaços da sua carne propícia aos furúnculos. Maltratava-se maltrantando-nos."
Graciliano Ramos, em Infância
"....porque as palavras só estão feitas para expressar-se a si mesmas, para expressar o dizível, quer dizer tudo exceto o que nos governa ou faz viver..."
Javier Cercas, em Soldados de Salamina
* Teremos mais posts com mais trechos, no futuro. (Daniela Diniz)
segunda-feira, 27 de julho de 2009
O Blog Impresso de Saramago
A experiência, que mescla considerações sobre informações do dia, apreciações dos trabalhos de outros artistas e relatos pessoais, não se limitará ao mundo virtual. Uma seleção de textos postados durante seis meses (de setembro do ano passado a março deste ano) acaba de ser publicada no Brasil com o título de O Caderno – com a segunda seleção de posts sendo prevista para sair em setembro, em Portugal. O que leva à pergunta: Por que publicar em obras impressas o que o leitor pode adquirir gratuitamente na internet? Ao jornalista Ubiratan Brasil, de O Estado de S. Paulo (edição de 25 de julho), Saramago respondeu: "Tal como o conhecemos, o livro terá ainda uma longa vida. Uma biblioteca é um lugar especial, os livros são os homens e as mulheres que os escreveram. Estar numa biblioteca é estar acompanhado." (Leda Balbino)
terça-feira, 21 de julho de 2009
A arte de dar livros
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Processo de Escrita
quinta-feira, 16 de julho de 2009
Memória Preservada
Obs.: Xinran esteve no Brasil para participar da Festa Literária Internacional de Paraty. O programa Roda Viva ainda não tem data para ir ao ar. (Leda Balbino)
Os livros essenciais
Literatura Mundial
1º Ilíada (Homero)
2º Odisseia (Homero)
3º Hamlet (William Shakespeare)
4º O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha (Miguel de Cervantes)
5º A Divina Comédia (Dante Alighieri)
6º Em Busca do Tempo Perdido (Marcel Proust)
7º Ulisses (James Joyce)
8º Guerra e Paz (Leon Tolstói)
9º Crime e Castigo (Fiódor Dostoiévski)
10º Os Ensaios (Michel de Montaigne)
Literatura Brasileira
1º Memórias Póstumas de Brás Cubas (Machado de Assis)
2º Dom Casmurro (Machado de Assis)
3º Vidas Secas (Graciliano Ramos)
4º Os Sertões (Euclides da Cunha)
5º Grande Sertão: Veredas (Guimarães Rosa)
6º A Rosa do Povo (Carlos Drummond de Andrade)
7º Libertinagem (Manuel Bandeira)
8º Lavoura Arcaica (Raduan Nassar)
9º A Paixão Segundo G. H. (Clarice Lispector)
10º Macunaíma -- O Herói Sem Nenhum Caráter (Mário de Andrade)
terça-feira, 14 de julho de 2009
15 Minutos com Llosa
segunda-feira, 13 de julho de 2009
Um ranking próprio
quarta-feira, 8 de julho de 2009
A mãe de Obama
Meu marido, o também jornalista Marcelo Cabral, gostou tanto da ideia de um blog sobre literatura e coisas afins que quis dar sua contribuição. Aí vai.
Para quem se interessa pelo chamado jornalismo literário, eis uma indicação para tempos de Gay Talese no Brasil. É The History of a Mother, de Amanda Ripley, publicado originalmente na Time em abril de 2008 e lançado no Brasil no caderno especial da PubliFolha sobre Barack Obama – aliás, uma beleza de edição, com papel de primeira e uma seleção fotográfica espetacular. No trabalho, Ripley defende que a influência multicultural da mãe de Obama ajudou a moldar a personalidade do presidente americano. Como diz a autora, “Cada um vive uma vida de verdades contraditórias. Não somos uma coisa ou outra. A mãe de Barack Obama foi pelo menos uma dúzia de coisas”. Stanley Ann Duham – nome de homem, porque o pai queria um rebento – esteve longe do estereótipo da classe média vinda dos fundões dos Estados Unidos: casou-se duas vezes – uma vez com um queniano e outra com um indonésio –, completou a faculdade enquanto recebia o vale-alimentação do governo e trabalhou para a Fundação Ford na Indonésia, lidando com os problemas sociais das mulheres do país. Mais tarde, receberia um Ph.D em antropologia. Ripley mostra que toda essa bagagem maternal produziu um impacto profundo em Obama. Por um lado, a falta de raízes causou uma certa carência no futuro presidente – que ele próprio reconhece em sua autobiografia. Por outro, ajudou de modo decisivo em sua carreira política: “Quando Barack Obama descobre como comover uma multidão de pessoas diferentes dele, ajuda ter uma mãe que olhava para diferentes culturas com a admiração com que outras pessoas estudam pedras preciosas”, conclui. O livro, com o artigo e a cobertura traduzida completa da revista sobre o caminho de Obama até a Casa Branca, pode ser encontrado aqui (http://publifolha.folha.com.br/catalogo/livros/136377/) por R$ 34,90. (Marcelo Cabral, marido de Leda Balbino)